sábado, 29 de março de 2014

Definitivo


Definitivo, como tudo o que é simples. 
Nossa dor não advém das coisas vividas, 
mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram. 

Sofremos por quê? 
Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas, 
por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, 
por todos os filhos que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos, 
por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, 
e não compartilhamos. 
Por todos os beijos cancelados, pela eternidade. 

Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, 
mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, 
para conversar com um amigo, para nadar, para namorar. 

Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, 
mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias 
se ela estivesse interessada em nos compreender. 

Sofremos não porque nosso time perdeu, 
mas pela euforia sufocada. 

Sofremos não porque envelhecemos, 
mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, 
impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, 
todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar. 

Por que sofremos tanto por amor? 
O certo seria a gente não sofrer, 
apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, 
que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável, 
um tempo feliz. 

Como aliviar a dor do que não foi vivido? 
A resposta é simples como um verso: 
Se iludindo menos e vivendo mais!
A cada dia que vivo, 
mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, 
nas forças que não usamos, 
na prudência egoísta que nada arrisca, 
e que, esquivando-se do sofrimento, 
perdemos também a felicidade. 

A dor é inevitável. 
O sofrimento é opcional...

(Carlos Drummond de Andrade)

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