sexta-feira, 10 de março de 2023

Ante os que partiram

Nenhum sofrimento, na terra, será talvez comparável ao daquele coração que se debruça sobre outro coração regelado e querido que o ataúde transporta para o grande silêncio.

Ver a névoa da morte estampar-se, inexorável, na fisionomia dos que mais amamos, e cerrar-lhes os olhos no adeus indescritível, é como despedaçar a própria alma e prosseguir vivendo.

Dizem aqueles que já estreitaram de encontro ao peito um filhinho transfigurado em anjo de agonia, um esposo que se despede, procurando debalde mover os lábios, mudos, uma companheira, cujas mãos com agrados à ternura pendem extintas; um amigo que tomba desfalecente para não mais se erguer, ou um semblante materno acostumado a abençoar, e que nada mais consegue exprimir senão a dor da extrema separação através da última lágrima.

Falem aqueles que, um dia, se inclinaram, esmagados de solidão, à frente de um túmulo, os que se rojaram em prece nas cinzas que recobrem a derradeira recordação dos entes inesquecíveis, os que caíram, varados de saudade, carregando no seio o esquife dos próprios sonhos, os que tatearam, gemendo, a lousa imóvel, e os que soluçaram de angústia, no ádito dos próprios pensamentos, perguntando, em vão, pelas presenças dos que partiram.

Todavia, quando semelhante provação te bata à porta, reprime o desespero e dilui a corrente da mágoa na fonte viva da oração, porque os chamados mortos são apenas ausentes e as gotas de teu pranto lhes fustigam a alma como chuva de fel em combustão.

Também eles pensam e lutam, sentem e choram.

Atravessam a faixa do sepulcro como quem se desvencilha da noite, mas, na madrugada do novo dia, inquietam-se pelos que ficaram... Ouvem-lhes os gritos e as súplicas, na onda mental que rompe a barreira da grande sombra e tremem cada vez que os laços afetivos da retaguarda se rendem à inconformação ou se voltam para o suicídio.

Lamentam-se quanto aos erros praticados e trabalham com afinco, na regeneração que lhes diz respeito.

Estimulam-te à prática do bem, partilhando-te as dores e as alegrias.

Rejubilam-se com as tuas vitórias do mundo interior e consolam-te nas horas amargas para que te não percas no frio do desencanto.

Tranquiliza, desse modo, os companheiros que demandam o além, suportando corajosamente a despedida temporária, e honra-lhes a memória, abraçando com nobreza os deveres que te legaram.

Recorda, que, em futuro mais próximo que imaginas, respirarás entre eles, comungando-lhe as necessidades e os problemas, porquanto terminarás também a própria viagem no mar das provas redentoras.

E, vencendo para sempre o terror da morte, não nos será lícito esquecer que Jesus, o nosso Divino Mestre e Herói do Túmulo Vazio, nasceu em noite escura, viveu entre infortúnios da terra e expirou na cruz, em tarde pardacenta sobre um monte empedrado, mas ressuscitou aos cânticos da manhã no fulgor de um jardim.


Emmanuel

Mensagem recebida por Chico Xavier

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