sexta-feira, 15 de novembro de 2013

A Mentira Descoberta


O Dr. Arun Gandhi, neto de Mahatma Gandhi e fundador do Instituto M. K. Gandhi para a Vida Sem Violência, em uma palestra na Universidade de Porto Rico, compartilhou a seguinte história como exemplo da vida sem violência experimentada por seus pais.
- Eu tinha 16 anos e estava vivendo com meus pais no instituto que meu avô havia fundado, a 18 milhas da cidade de Durban, na África do Sul, em meio à plantação de cana-de-açúcar. Estávamos bem no interior do país e não tínhamos vizinhos. Assim, sempre nos entusiasmavam, às minhas duas irmãs e a mim, poder ir à cidade visitar amigos ou ir ao cinema.
Certo dia, meu pai me pediu que o levasse à cidade para assistir a uma conferência que duraria o dia inteiro, e eu me apressei de imediato diante da oportunidade. Como iria à cidade, minha mãe deu-me uma lista de compras do supermercado, das quais necessitava, e, como iria passar todo o dia na cidade, meu pai me pediu que me encarregasse de algumas tarefas, como levar o carro à oficina. Quando me despedi de meu pai, ele me disse:
- Nós nos encontraremos neste local às 5 horas da tarde e retornaremos à casa juntos.
Após muito rapidamente completar todas as tarefas, fui ao cinema mais próximo. Estava tão concentrado no filme, um filme duplo de John Wayne, que me esqueci do tempo. Eram 5:30 horas da tarde, quando me lembrei. Corri à oficina, peguei o carro e fui até onde meu pai estava me esperando. Já eram quase 6 horas da tarde.
Ele me perguntou com ansiedade:
- Por que chegou tarde?
Eu me sentia mal com o atraso e não podia dizer a ele que estava assistindo a um filme de John Wayne. Então, eu lhe disse que o carro não ficou pronto e que tive que esperar, sem saber que meu pai já havia ligado para a oficina. Quando ele se deu conta de que eu havia mentido, disse-me:
- Algo não anda bem na maneira pela qual estou educando você, pois vejo que não confia em mim para contar a verdade. Vou refletir sobre o que fiz de errado. Vou caminhar as 18 milhas até nossa casa e pensar sobre isso.
Assim, vestido com sua roupa e seus sapatos elegantes, começou a caminhar até a casa, por caminhos que nem eram asfaltados nem iluminados.
Não podia deixá-lo só. Assim, dirigi por 5 horas e meia atrás dele, vendo meu pai sofrer a agonia de uma mentira estúpida que eu havia dito. Decidi, desde aquele momento, que nunca mais iria mentir.
Muitas vezes me recordo desse episódio e penso: "Se ele me tivesse castigado do modo que castigamos nossos filhos, teria aprendido a lição? Não acredito. Se tivesse sofrido o castigo, continuaria fazendo o mesmo. Mas, tal ação de não-violência foi tão forte, que está guardada na memória, como se fosse ontem".

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